terça-feira, 1 de novembro de 2016




EH! Mãe.

Eu cruzava o sertão com uma mala na mão,
Atravessa a caatinga para mascatear,
Vendendo lingerie nos bordeis e nas casas de pouca fama,
Vendendo  calcinha e sutiã  para mulher  dama.
Para agrada seus fregueses na cama.
De cidade em cidade de Pernambuco a Paraíba.
Vendia no descanso da puta ou no trabalho com outro “pro riba”
Mas não deixava de vender, não misturava diversão com trabalho,

Solteiro como nasci, respeitador e ouvinte de minha mãe.
Que sempre me dizia: Procure uma mulher de respeito.
Caráter de uma mulher não está nem na bunda nem nos peitos.
Meu trabalho era meu lema e a minha vida.
Primeiro faço meu pé de meia.
Depois me caso e vivo na cadeia.
Porque mulher nenhuma no mundo vai querer ficar
Para cima e para baixo andando no lombo de um jumento,
Assim como eu faço.

Mas um dia falei com mãe vou mudar meu rumo vou vender na Bahia,
Atolei-me  pelos descampados à fora,
Acompanhando o leito do Rio São Francisco e fui-me embora.
Uma vila aqui outra ali, vendi o que deu para vender.
Parecesse  que o destino me empurrava de Rio abaixo sem descanso.
Por fim cheguei a uma cidade de nome Remanso.
Tinha pouca coisa para vender, mas, muita necessidade de sobreviver
Corri logo para o puteiro com toda certeza ali ganharia o meu dinheiro.
Bem recebido, espalhei os produtos e em poucos minutos vendi tudo.

Lá de dentro saindo uma morena parecendo uma sereia me perguntou:
E para mim não sobrou nada.
E eu lhe respondi: Só sobrei eu.
Então eu quero: disse ela.
Foi pouca conversa, juntei as coisas dela,
Com o coração em brasa
Coloquei-a no lombo do Jumento.
E parti para casa.

Nunca havia me sentido daquele jeito, Com aquela brasa queimando no peito.
Torrando o coração.
Já tinha ouvido falar da tal da paixão. Mas que era desse jeito num sabia não.
Mas quando cheguei a Salgueiro eu tinha dinheiro
E uma mulher para amar.
Fui para vender, mas o destino acabou de me comprar.

Quando cheguei a casa minha mãe se atravessou
Na porta.
Mediu Iracema de cima a baixo. E disse:
Olhando para mim, Eita Bahia! Sabia meu filho que você um dia se perdia, e caiu na risada.
Iracema foi bem recebida e bem aceita,
Mãe arrumou até a cama que a gente deita.
Descobri o que era felicidade, o que era amar,
Se o amor é cego, o que Iracema era antes, ele não deixou enxergar.

Mas depois de uns três meses Iracema sumiu,
Minha mãe me disse: Viu: mulher da vida não se acostuma com um lar. Pensa que eu não sabia onde ela, você foi buscar?
 Você não é Jesus para essa Maria Madalena te acompanhar.
Ah! Como eu chorei, minha felicidade escorreu de riacho abaixo.
Vou voltar a mascatear e não se envolver com mais ninguém.
Meu trabalho vai ser o meu único bem.

Depois de alguns dias já tarde da noite
Alguém bateu na porta.
Quem era? Iracema! No seu colo uma menina pequena
Olhos negros como a noite e me chamou de pai,
Desarmou-me completamente.
A minha mãe ela chamou de vovó, a voz dela embargou deu um nó,
Pensei que minha mãe iria desmaiar, mas foi um suspiro só.

Iracema me disse que foi buscar a filha para aumentar a família e a felicidade do seu coração.
Tinha medo  de eu não deixar e sem sua filha não poderia ficar.
Mas olhando para minha mãe agarrada com aquela menina,
A vida ensina, tem coisas que nem dá para comentar.
A felicidade é tanta, é tanta que deu até para esbanjar
Minha mãe ganhou mais dois netos,
Eu e Iracema vivemos há vinte anos a sonhar.
Tenho a minha própria loja, as mulheres agora que
O lingerie vem buscar.
Quando na loja entra uma mulher, minha mãe fica a me observar, eu digo:
Eh! Mãe não precisa nem me recomendar.

                                                                Francisco Gouveia







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