EH! Mãe.
Eu cruzava
o sertão com uma mala na mão,
Atravessa
a caatinga para mascatear,
Vendendo
lingerie nos bordeis e nas casas de pouca fama,
Vendendo calcinha e sutiã para mulher
dama.
Para
agrada seus fregueses na cama.
De cidade
em cidade de Pernambuco a Paraíba.
Vendia no
descanso da puta ou no trabalho com outro “pro riba”
Mas não
deixava de vender, não misturava diversão com trabalho,
Solteiro
como nasci, respeitador e ouvinte de minha mãe.
Que sempre
me dizia: Procure uma mulher de respeito.
Caráter de
uma mulher não está nem na bunda nem nos peitos.
Meu
trabalho era meu lema e a minha vida.
Primeiro
faço meu pé de meia.
Depois me
caso e vivo na cadeia.
Porque
mulher nenhuma no mundo vai querer ficar
Para cima
e para baixo andando no lombo de um jumento,
Assim como
eu faço.
Mas um dia falei com mãe vou mudar meu rumo
vou vender na Bahia,
Atolei-me pelos descampados à fora,
Acompanhando
o leito do Rio São Francisco e fui-me embora.
Uma vila
aqui outra ali, vendi o que deu para vender.
Parecesse que o destino me empurrava de Rio abaixo sem
descanso.
Por fim
cheguei a uma cidade de nome Remanso.
Tinha
pouca coisa para vender, mas, muita necessidade de sobreviver
Corri logo
para o puteiro com toda certeza ali ganharia o meu dinheiro.
Bem recebido,
espalhei os produtos e em poucos minutos vendi tudo.
Lá de
dentro saindo uma morena parecendo uma sereia me perguntou:
E para mim
não sobrou nada.
E eu lhe
respondi: Só sobrei eu.
Então eu
quero: disse ela.
Foi pouca
conversa, juntei as coisas dela,
Com o
coração em brasa
Coloquei-a
no lombo do Jumento.
E parti
para casa.
Nunca
havia me sentido daquele jeito, Com aquela brasa queimando no peito.
Torrando o
coração.
Já tinha
ouvido falar da tal da paixão. Mas que era desse jeito num sabia não.
Mas quando
cheguei a Salgueiro eu tinha dinheiro
E uma
mulher para amar.
Fui para
vender, mas o destino acabou de me comprar.
Quando
cheguei a casa minha mãe se atravessou
Na porta.
Mediu
Iracema de cima a baixo. E disse:
Olhando
para mim, Eita Bahia! Sabia meu filho que você um dia se perdia, e caiu na
risada.
Iracema
foi bem recebida e bem aceita,
Mãe
arrumou até a cama que a gente deita.
Descobri o
que era felicidade, o que era amar,
Se o amor
é cego, o que Iracema era antes, ele não deixou enxergar.
Mas depois
de uns três meses Iracema sumiu,
Minha mãe
me disse: Viu: mulher da vida não se acostuma com um lar. Pensa que eu não
sabia onde ela, você foi buscar?
Você não é Jesus para essa Maria Madalena te
acompanhar.
Ah! Como
eu chorei, minha felicidade escorreu de riacho abaixo.
Vou voltar
a mascatear e não se envolver com mais ninguém.
Meu
trabalho vai ser o meu único bem.
Depois de
alguns dias já tarde da noite
Alguém
bateu na porta.
Quem era?
Iracema! No seu colo uma menina pequena
Olhos
negros como a noite e me chamou de pai,
Desarmou-me
completamente.
A minha
mãe ela chamou de vovó, a voz dela embargou deu um nó,
Pensei que
minha mãe iria desmaiar, mas foi um suspiro só.
Iracema me
disse que foi buscar a filha para aumentar a família e a felicidade do seu
coração.
Tinha
medo de eu não deixar e sem sua filha
não poderia ficar.
Mas
olhando para minha mãe agarrada com aquela menina,
A vida
ensina, tem coisas que nem dá para comentar.
A
felicidade é tanta, é tanta que deu até para esbanjar
Minha mãe
ganhou mais dois netos,
Eu e
Iracema vivemos há vinte anos a sonhar.
Tenho a
minha própria loja, as mulheres agora que
O lingerie
vem buscar.
Quando na
loja entra uma mulher, minha mãe fica a me observar, eu digo:
Eh! Mãe
não precisa nem me recomendar.
Francisco
Gouveia
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