quinta-feira, 19 de abril de 2018




FELICIDADE
A DOIS.

Seu Júlio conta que não queria casar-se. Inclusive fugia do namoro, as pessoas até achavam que ele tinha algum problema.
Mas, isso foi até conhecer Judite. Ela mudou complemente seu jeito de pensar sobre o casamento. Não que ela fosse muito atraente; não era! Era uma moça simples, honesta, comunicativa que foi trabalhar na mesma fábrica que Júlio trabalhava.

Ele se encantou com ela, se apaixonou e com pouco tempo se casou. Vivia numa felicidade muito grande. Mas, ele não queria filhos e ela insistia em tê-los. Por fim ela engravidou e teve gêmeos. Mas a fatalidade quis que ela morresse no parto. E Júlio se viu agora com dois filhos e uma viúves prematura.

Tentou criar os filhos sozinho com sua mãe, mas não deu certo. Casou novamente. Não teve outros filhos vivia agora para aqueles dois filhos. Trabalhava incansavelmente para cuidar bem dos seus filhos, a madrasta deles também era meiga, carinhosa, cuidadosa com os meninos, como se eles fossem seus filhos.
Mas os meninos aos dezesseis anos deram problemas por má companhia e roubo de motos. Foram ambos até os dezoito anos de idade habitar em um reformatório para menores, para desespero de Júlio, o sofrimento semanal de visitar os seus filhos presos e longe do convívio do lar que havia preparado para não lhes faltasse nada, e eles procuraram outro caminho fugindo da escola e enganado a mãe dizendo que iam estudar. Mas na verdade tomavam outro rumo, maquinas de jogos em bares e se tornaram presa fácil de traficantes, para suprir o dinheiro que necessitavam para jogar e usar drogas.
Agora maiores de idade estão no centro carcerário, por tráfico de drogas e assalto a mão armada, um deles inclusive com ferimento de um projétil de uma arma de um policial.

Agora, Júlio vem duas vezes por semana visitar seus filhos, a herança deixada por sua primeira esposa, o sonho dela cria-los e ser feliz com o marido. Mas faleceu, foi embora antes do tempo. Talvez o destino não quisesse que ela visse o destino reservasse para aqueles meninos, um destino que eles mesmo construíram pela desobediência.
Júlio é uma pessoa triste, e ficará ainda mais triste depois que os filhos forem julgados, por assalto a mão armada e por tráfico de drogas. A sua felicidade que deveria ser plena, acabou-se em dupla infelicidade.

Francisco Gouveia




Relatado na minha visita ao Centro de Detenção Provisória em São Paulo.

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