O S a b u j o
Sabujo não é um cachorro. É um apelido dado a uma
pessoa. Um homem de coração muito grande e bom. Prestativo, amigo e a prova de
qualquer serviço. Trabalhador.
Um dia apareceu lá na fazenda pedindo água.
Conversou, desconversou, disse que estava perdido e não tinha um lugar para
ficar, pediu emprego. E ficou. Um presente dos céus.
Fez amizade fácil com todos até com os animais, até
os patos andavam atrás dele e ele gostava disso.
Trabalha por dez e come por vinte. Quando você
pensa em pedir para ele fazer alguma tarefa ele diz que já está feita.
Eficiência total.
Nunca lhe chamamos por seu nome, sempre lhe
chamávamos de novato e o apelido de sabujo surgiu quando o convidamos para
caçar.
Pediu para nos guiar e nos guiou. Para nossa
surpresa ele dizia é por aqui, é por ali... E atira na àquela direção, era
fatal. Mais um alce ou uma lebre na panela. Não errava nas caçada, conhecia
rastro, pegadas e trilhas com uma facilidade incrível, nunca perguntamos aonde
aprendeu.
Todo animal da fazenda era seu amigo de estimação.
Parece que até as galinhas eram apaixonadas por ele. Da mesma maneira que
tratava as pessoas tratava os animais e aves.
Tem o caso que ele ficou ao lado de uma vaca doente
por quatro dias sem comer e beber até que a vaca se restabeleceu. Já tinha
visto gente feliz, mas por causa de uma vaca que sarou aquilo foi demais.
Agora o que realmente nos marcou profundamente e
aumentou nosso apreço pelo sabujo foi: Certo dia pedi que ele fosse caçar uma
lebre para nós e ele disse: uma só!
Respondi: Está bom! Traga-me umas três.
E ele saiu apressado com a espingarda a tira colo.
A floresta aqui não é muito densa em sua
totalidade, mas tem muita fauna ainda, inclusive ursos que às vezes nos
causavam transtornos.
Mas, foram mais de cinco horas de espera e nada
dele voltar. Resolvemos ir atrás do Sabujo.
Não andamos muito e numa clareira estava sabujo
caído todo machucado com cortes profundos pelo corpo e sagrava muito, mas ainda
segurava uma bolsa de caçador com cinco lebres dentro.
A sua volta os arbustos estavam todos quebrados,
parece que havia lutado muito com alguma coisa.
Ainda estava lúcido, apesar de tantos ferimentos.
Perguntei a ele; O que ouve? Ele me respondeu. Urso, ele queria tomar a suas
lebres, eu não deixei. Depois disto desmaiou.
Mais adiante esta um urso pardo grande baleado na
cabeça, mas também tinha alguns machucados. A todos as qualidade que já
conhecíamos do sabujo agora somamos uma
grande coragem.
Foram mais de três meses de internação, eu o
visitava praticamente quase todos os dias. Já que ele era órfão e não tinha
família, nós obrigatoriamente, por amor e amizade todos da fazenda era a sua
família.
E uma dessas
visitas ele me impressionou e disse: Eu não queria machucar o urso, mas não
teve jeito.
Quando ele voltou para casa o inverno já estava
chegando, preparamos-lhe algumas surpresas. Uma festa com bolo de aniversário,
presentes que lhe comoveu. Mas o que lhe fez chorar de verdade foi um grande
casaco com a pele do urso que ele havia abatido. Na verdade ele não chorou pelo
presente, chorou mais uma vez pelo urso morto.
Disse-lhe que queríamos lhe fazer uma dedicatória,
mas não nos lembramos de seu nome.
Sabujo respondeu: Eu também nunca disse, amigos não
precisam de nome, precisa ser amigo, e a
única maneira de ter amigos e ser amigo o meu nome é Emerson.
Francisco Gouveia ( Brasil)
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